terça-feira, 3 de abril de 2007

Missão cumprida



Billy Donovan agora pode descansar. A televisão bem que disfarçava, mas dava para ver o vermelho dos seus olhos cansados de tanto assistir a videoteipes das partidas de Ohio State nos últimos dias. Joakim Noah já pode tirar da geladeira aquela champanhe que o papai Yannick trouxe especialmente da França, e Al Horford já pode ir para a balada, dançar merengue a noite toda.

A missão de repetir a conquista do ano passado foi cumprida. Os Gators da Flórida são bicampeões. Mais que isso, repetem a façanha de Duke, 15 anos atrás, e se tornam a primeira universidade a conquistar a NCAA no basquete e no futebol americano no mesmo ano.

A grande final



O ginásio Georgia Dome estava completamente lotado, com 51.458 pessoas, para ver a festa das torcidas das Universidades da Flórida e Ohio State. Enquanto isso, ainda no vestiário, o técnico Billy Donovan fazia um discurso, gravado e apresentado na televisão, uma analogia entre a equipe e um jóquei com seu cavalo, percorrendo um longo e tortuoso trajeto para vencer e não desistir na reta final - uma alusão à história do filme Seabiscuit, Alma de herói.

O jogo começou com as duas equipes defendendo muito e acertando pouco. O ala Corey Brewer e o armador Lee Humphrey ditavam o ritmo do ataque da Flórida, sempre buscando o arremesso de fora, já que era impossível entrar no garrafão dos Buckeyes. Ohio State encontrava dificuldades para acertar de três, sempre esbarrando na subestimada defesa de perímetro dos Gators. Sem alternativas, o jeito era passar para Greg Oden, que fazia o possível para manter sua equipe no jogo.

Aliás, Oden passou o primeiro tempo impermeável e cometeu apenas uma falta, talvez por conta da rigidez dos árbitros no jogo contra Georgetown. Por outro lado, o garrafão da Flórida conseguiu, no máximo, diminuir o ritmo de Oden, dificultando os pontos e fazendo faltas.

Fim do primeiro tempo, Flórida na frente, graças ao desempenho no perímetro, tanto na defesa quanto no ataque: 40-29.




No segundo tempo, com a opção tática de Thad Matta, Ohio State voltou buscando ainda mais o jogo em Oden e nas penetrações de Mike Conley Jr. Os Buckeyes ensaiavam uma virada. Visitaram a linha de lance livres oito vezes (contra apenas uma na primeira metade), enquanto Oden continuava impossível, marcando após o intervalo 14 de seus 25 pontos.

Como de costume, no entanto, Oden começou a mostrar a fadiga da rotina de treinos e jogos dificílimos que teve, apesar dos 19, e voltou a fazer muitas faltas. Sorte de Al Horford, que tinha feito apenas duas cestas enquanto marcado por Oden. O dominicano aproveitou o cansaço do time oponente para anotar 18 pontos e 12 rebotes.




Mas a noite era mesmo de Corey Brewer e Lee Humphrey. Com Joakim Noah pendurado em faltas o jogo inteiro, Brewer chamou a responsabilidade de liderar a equipe. Ele esbanjou versatilidade e preencheu a tábua de estatísticas com 13 pontos, oito rebotes, três roubadas, um toco e uma assistência. Ainda fez o possível para anular seus oponentes. Humphrey abusava da marcação de Conley Jr, que parecia perdido em quadra na defesa, para manter o recorde de cestas de três em jogos consecutivos - foram 39 partidas com pelo menos um tiro certeiro de fora, 47% de acerto no mata-mata.

Ohio State conseguiu fazer sua única cesta de três no segundo tempo a 38 segundos do fim. E foi por apenas três pontos que este colunista não acertou o placar: Flórida 84-75.

Agora o mundo fica aguardando as decisões dos jogadores que vão para o draft e a escolha de Billy Donovan de renovar ou tentar a sorte em outra vizinhança. Enquanto isso, o céu de Atlanta se colore de laranja e azul, e os Gators levam mais um caneco para casa.

segunda-feira, 2 de abril de 2007

Nova geração... no banco!


Billy Donovan e Thad Matta são os destaques da grande final do torneio


Ohio State e Flórida são as duas equipes que mais tiveram destaque durante a temporada regular. Têm um jogo mais equilibrado, coletivo, além de diversas estrelas individuais.

Mas o que chama a atenção é a dupla de técnicos. Nada de treinadores tradicionais, jogando dentro de um método particular que já rendeu vitórias no passado, ou extremamente explosivos, xingando os atletas, os juízes. Enfim, estamos diante de dois técnicos de uma geração nova disputando a grande final da NCAA.

Em comum, são famosos por recrutar novos talentos que não são apenas estrelas. São atletas que chegam para contribuir com os que já estão na equipe. Os dois treinadores priorizam o ataque em conjunto e sempre buscam o melhor posicionamento para os arremessos. São adeptos da defesa forte, fecham o garrafão – talvez os dois times que melhor sabem fazer o “box out” – e procuram o contra-ataque eficiente. Resumindo: suas equipes são balanceadas.

Thad Matta tem apenas 39 anos e ocupa o cargo em Ohio State há pouco menos de três anos. Curiosamente, foi com essa mesma idade que Mike Krzyzewski disputou sua primeira final à frente de Duke.

Em seu primeiro ano, os Buckeyes de Coach Matta não se classificaram para o torneio. No campeonato seguinte, o time foi eliminado na segunda rodada por Georgetown. No terceiro ano, ele recrutou o que ficou conhecido como “Thad Five” e trouxe para o campus em Columbus Greg Oden, Daequan Cook, Mike Conley Jr, David Lighty e Othello Hunter. Finalmente conseguiu chegar às finais, batendo o mesmo time dos Hoyas que o tinha eliminado no passado.

Billy Donovan chega a mais uma final de torneio com os Gators da Flórida - a terceira, com apenas 41 anos. Ele venceu a primeira final no ano passado e se tornou apenas o terceiro técnico a ser campeão e chegar entre os quatro finalistas como jogador - os outros dois foram as lendas Dean Smith e Bob Knight.

Com apenas 10 anos à frente da equipe da Flórida, Coach Donovan vê seu contrato expirando ao fim do torneio da NCAA. Rumores e especulações sobre o seu destino não faltam.

O mais forte vem da Universidade de Kentucky, que perdeu Tubby Smith para a Universidade de Minnesota e já anunciou que vai contatá-lo após o fim do torneio com uma proposta oficial - fala-se em US$ 3,5 milhões por ano. Outra possibilidade seria dirigir uma equipe da NBA. Aí o maior boato recai sobre o Memphis Grizzlies, uma das equipes mais jovens da liga profissional. O presidente da Universidade da Flórida, Bernie Machen, afirmou: “Não vamos perder Billy Donovan para ninguém. Ele é o melhor da América e vai ser um Gator enquanto for técnico”. Mais do que perder Donovan, a universidade corre o risco de perder seu melhor recruta para o próximo ano, o armador Nick Calathes, que prometeu jogar para o técnico em qualquer lugar que ele vá.

Billy, no entanto, parece feliz na Flórida. Ajudou a terminar de construir uma escola em Gainesville e seus sogros acabam de se mudar para a cidade. É claro que, neste momento, ele só tem cabeça para a partida de segunda-feira à noite.

No jogo de xadrez dos técnicos, ainda vejo a vantagem para a Flórida, que tem os melhor quinteto titular da liga. Já acertei os dois finalistas. Agora só falta o resultado.

Bicho-papão

Al Horford

Muito foi falado sobre a defesa de UCLA, mas o fato é que a Flórida venceu nos dois lados da quadra. O armador dos Bruins Arron Afflalo jogou pendurado com faltas e só conseguiu fazer sua primeira cesta a seis minutos do fim. O outro armador do time, Darren Collison, que vinha pontuando com muita regularidade, fez apenas nove.

Billy Donovan deu um nó tático em Ben Howland, venceu a dupla-marcação do ferrolho, abriu o jogo para o perímetro e viu o ala Corey Brewer acertar quatro de cinco arremessos de três pontos. O armador Lee Humphrey contribuiu com mais quatro chutes de longa distância. É muito difícil parar um time que tem cinco jogadores capazes de pontuar nesse nível.

Enquanto isso, no garrafão, Al Horford e Joakim Noah não desperdiçaram um rebote sequer, somando 28. Noah, aliás, demonstrou a mesma garra do ano passado e ainda distribuiu quatro tocos.

Dominante vs. Dominante



Buckeye é o fruto de uma castanheira nativa do estado de Ohio - simplesmente intragável. Nada mais conveniente para ser o mascote do time, afinal a equipe de Greg Oden tem sido, vá lá, dura de engolir.

O jogo serviu para mostrar que os Buckeyes, apesar de mais fortes com Oden em quadra, são muito melhores do que o oponente da noite de sábado, Georgetown, sem o pivô Roy Hibbert.

Hibbert produziu mais que Oden - que praticamente não jogou no primeiro tempo, com duas faltas em três minutos. Foram 19 pontos, seis rebotes e um toco. Mas Ohio State seguia firme no jogo, com Mike Conley Jr e Jamar Butler.

Na segunda metade, foi a vez de Hibbert amargar o banco, pendurado em faltas, e Oden finalmente preencheu a tábua de estatísticas com 13 pontos, nove rebotes e um toco.

Então ficou assim: no jogo dos dois pivôs mais dominantes, deu 1-1, mas a equipe de Oden avança porque é superior.

Resultados de sábado:

Ohio State 67-60 Georgetown
Flórida 76-66 UCLA